terça-feira, 22 de setembro de 2009

MEU DIREITO É UMA MERCADORIA! PRA NÃO USAR OUTRO TROCADILHO

Cheguei da UEMA... Após estabelecer-me no “trampo”, encontro-me no meu intervalo da desforra! Meu organismo já não é o mesmo!
Depois do sangue esfriar, após a maratona da Forquilha para minha aula matinal da disciplina de Maranhão Republicano e em seguida percorrer adentrando o bairro do São Raimundo até a sede da SEMOSP no São Cristóvão, meus pés e costas começaram a dar sinais de fadiga.
Sempre tive e batalharei para ter essa disposição, mas minhas peregrinações marcantes sempre tiveram um toque requintado em minhas farras da boemia. E na torpidez etílica, meu corpo nunca reclamou, pelo contrário, expelia harmonicamente o elixir da vida!
Mas voltando à realidade... Tudo isso por conta dos momentos que repercutem um trabalhador comum, nas dificuldades em estabelecer o controle de um salário mínimo com uma vida debilitada, em certos casos, de uma disciplina rígida que combato em nome da dignidade de não se corromper por completo a esse mundo de exploração.
Por que isso:
Em primeiro lugar é importante frisar que os direitos adquiridos a todo o momento são negligenciados e até mesmo negados em sua essência, e por isso, nos submetendo a uma degradação não só como cidadão, mas como pessoa humana.
Esse mês representaria para nós estudantes um simbolismo importante, a luta pela meia-passagem, advinda de 1979. Mas, depois de 30 anos, percebo que tal direito hoje podemos questioná-la se existe.
Desde que me matriculei neste semestre, tive a surpresa de que meu nome estava bloqueado no sistema do Sindicato das Empresas de Transportes (SET) que controla junto com a Secretaria Municipal de Transito e Transportes (SMTT) o acesso à meia-passagem.
Um processo gradativo de burocratização que vem sistematicamente sucateando e individualizando as formas de se buscar recorrer aos nossos direitos. Até sexta-feira passada tive a informação correta repassada para mim, “uma corrida de gato e rato” de informação desencontrada que no final das contas prejudicou diretamente a mim, pois esse tempo todo (1.ª semana de agosto) com a carteira bloqueada tive que desembolsar o valor integral da passagem (R$ 1,70).
O problema maior é o desgaste individual. Gradativamente estamos perdendo uma ação coletiva, principalmente pela falta de identidade dos movimentos estudantis (um outro assunto futuro que discutirei neste espaço) e que hoje, estamos cada vez mais isolados em nossas atuações.
Tirei esta conclusão dentro de minha experiência, onde sempre atuei na luta pela meia-passagem, desde o movimento secundarista na segunda metade da década de 90 do século XX, e principalmente na UEMA contemporaneamente. Mas, nos últimos tempos, vejo-me sem perspectivas de convergir uma reação coletiva, o movimento estudantil não mais atua de maneira sistemática, houve um recuo que abre precedentes de minar e destruir qualquer sonho de autonomia que se preze no sentido de levar a frente e com clareza o estudante à vitória de suas reivindicações. Esse recuo hoje está representado pela cega necessidade de priorizar construir uma Entidade Nacional, já comentado neste espaço, no caso a ANEL.
O porquê deste desabafo, mas com uma preocupação de demonstrar a grave situação em uma análise política.
Minha situação não é isolada, vários colegas do curso que identifiquei e que atuam no movimento estudantil tiveram problemas similares aos meus. Compartilhamos as mesmas preocupações, e o que ocorreu? Vários deles individualmente conseguiram resolver a situação. O engraçado é que tive sempre energia para querer desenvolver uma ação direta, mas não estava vendo um espaço coletivo pra isso. E ao conversar com esses meus colegas, perguntava a eles como resolveram o problema, mas nenhum objetivamente me deu a dica, e o assunto parecia ganhar rumos individualizados. Senti-me um Militante Abandonado!
Procurei por conta própria correr contra o prejuízo, e isso me abalou, não das convicções que tenho, mas da perspectiva de continuar uma “batalha” diante de um “exército” que já não me sinto pertencente!
É lamentável vermos ao longo do tempo, com um histórico de lutas sendo gradativamente sendo aniquilado por uma estrutura de poder viciada, mas legitimada por nós mesmos no cotidiano pelo simples fato de que a representação se dá mediante um documento forjado para nossa própria alienação. Você só é considerado um estudante caso tenha acesso a esse tipo de documento. Você só é um cidadão mediante um código de barras!
Por que digo que nos guiamos por essas mesmas representações?
Acima coloquei que os Movimentos Estudantis (principalmente os ditos revolucionários) estão assumindo um papel prioritário na representatividade, esquecendo de mobilizar para as lutas cotidianas, e essa luta pela meia-passagem, assim como a meia-cultural é fundamental para estimularmos uma retomada de consciência de classe, em específico, a classe estudantil; porém, a luta por si só desses direitos não é a luta por um fim em si de nossas atribuições, mas só o começo.
Não vou de maneira alguma abandonar a luta, mas os métodos até então aplicados estão sendo resignificados por mim. Até então de maneira maniqueísta denunciava que o mal estava unicamente nas instituições que controlam nossos direitos, mas eu não estava sendo dialético, até porque é papel deles buscarem suas legitimações em uma sociedade baseada na hierarquia do poder. O problema é embarcarmos na mesma lógica, e é isso que está acontecendo.
O episódio específico que relatei aqui demonstrou isso. O procedimento de erros sucessivos de informação do Departamento do Curso de História que me fez perder tempo ao atribuir unicamente o “erro” ao SET, que não houve, mas o simples fato da crescente burocratização de se renovar o cadastramento leva a um outro princípio do desmonte gradativo do acesso à meia-passagem; e o mais agravante, o Movimento Estudantil da UEMA hoje que não expressa uma única mobilização a respeito.
A minha identidade estudantil hoje se resume a um cartão de PVC magnético. Esquecendo em casa ou tendo a infelicidade de perder, ser roubado ou em um descuido, quebrar, torno-me um cidadão comum, neste caso, sem direitos até o momento de pagar uma segunda via, portanto, obedecendo à lógica do Capital que por sua vez, em médio prazo cria mecanismos que burocratizam o acesso - no caso dos cadastramentos desorganizados - e nos as sujeitam a individualmente (como categoria de consumidores e não de cidadãos) esbravejarmos, estressarmos e perdermos todas as prerrogativas da dignidade humana... O nosso direito baixou ao grau de mercadoria!