sexta-feira, 31 de julho de 2009

TRANSPORTE COLETIVO - NOSSO PURGATÓRIO




Nosso transporte coletivo a cada dia está se tornando uma bomba relógio, pronta para explodir... e quem paga por isso somos nós, usuários assíduos, sempre reféns dos lucros e monopólio dos empresários e da omissão do poder público...

Mas nada disso é novidade para todos!

Pelo contrário, as insatisfações crescem a cada dia, basta vermos o grau de intolerância no embarque e desembarque das plataformas dos terminais de integração, criadas a priore para facilitar o acesso e as disponibilidades em vários pontos da cidade, por menor tempo e percurso e na tentativa de dimuir o valor do transporte, porém, o que vemos é o caos instalado... um formigueiro humano se engalfinhando a todo momento para terem acesso ao escasso número da frota rodoviária, em que se estaponam para poderem ter o mínimo direito de ir e vir, mas de maneira limitada e na maioria das vezes, humilhados...

Nesses últimos dias, a insatisfação beira o limite da racionalidade. Esses dias ao final do expediente, indo à casa de meu Amor, Izabel na Cidade Operária, tendo que pegar a linha da Cidade Olímpica... sempre lotado, stress é privilégio para quem frequente diariamente essas linhas... é loucura mesmo...

Ontem por exemplo, tive a oportunidade de sair mais cedo do trampo para resolver umas pendências, e aproveitei que consegui resolver mais cedo e resolvi ir à casa de meu Amor. Comprei uma revistinha para a filha dela, Malu. Simplesmente fiquei na parada da Cohab meia hora para esperar o ônibus (das 16 às 16:30) ao pegar, fora da hora do rush, minha surpresa, lotado, tive que ir em pé, mas ainda bem que não estava entupido. Ao chegar a oTerminal do São Cristóvão, consegui um acento, mas logo frustrado, pois uma senhora ficou ao meu lado e cedi a poltrona... ai que lotou mesmo o busão!

Pronto, dia completo... como diz GOG, periferia é periferia em qualquer lugar!

Cheguei ao meu itinerário tranquilo, melhor que o dia anterior que fiquei a uma hora e meia esperando onibus, e super lotado, a chegar à casa de Izabel... mas seus braços compensão qualquer sofreguidão, afinal, Vinícius de Moraes sempre falou que Amor e sofrimento sempre andam juntos...

O pior de tudo é que hoje, ao me matricular na UEMA, simplesmente fui comprar crédito para minha carteira de estudante, e pra surpresa minha, estava bloqueada, meu nome não se encontra no sistema de 2009...

Impressionante, estamos vivendo uma quebra gradual de nossos direitos, a todo custo sendo manipulado em retóricas contraditórias que proferem como medidas de preservar de fato o lucro dos empresários... Alegavam que os Terminais de integração iriam facilitar e humanizar o acesso ao transporte, mas o que vemos é a animalização dos usuários... Que com a catraca eletrônica e o cartão de transporte iria combater a fraude e facilitar o usuário de seus direitos.
Passamos de cidãdãos a consumidores, substituidos e confundidos com mercadorias, nosos direitos são gradativamente no sistema capitalista submetidos à lei do mercado, onde o indivíduo aliendado, não mais sabe o caráter de suas atribuições de luta e é empurrado ao individualismo, promovendo assim um processo gradativo da desestruturação de nossos valores...

Estamos a beira do Caos!

Minhas experiências na luta por nossos direitos estudantis me leva a cair em um ostracismo militante, pois, a cada dia a desmobilização é imanente... vejo com pesar estar aqui, substituindo panfletos em lugar a um espaço virtual quase sinônimo de diário... perdemos nossos referenciais, mas no meio de todo caos, há um sopro de possibilidades, condições embrionárias de uma nova concepção de luta, rompendo valores até então engeçados pelos partidos, sindicatos, movimentos sociais viciados por uma busca desesperada de uma vanguarda falida... Acredito nas possibilidades da espontaneidade, na rebelião do homem pelo homem...

Passemos a desconstruir para recosntruir!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

IMPRESSÕES DO CONGRESSO NACIONAL DE ESTUDANTES (CNE – RJ 2009)



 (Artêmio Costa, delegado do CNE pelo curso de História da UEMA, na Plenária final, compondo uma charge apreendendo o momento formado com o seu desfecho)


Demorei a redigir minhas impressões na expectativa de "baixar a poeira" de minhas angústias e ser o mais prudente possível nas palavras e tentar ao máximo compartilhar com os demais camaradas uma definição mais próxima da realidade. No entanto, é impossível ausentar-me das emoções e subjetividades que carregamos ao analisar qualquer processo histórico e não gostaria disso, pelo contrário, acredito que são esses ingredientes que ficaram omitidos, mas contidos nas entrelinhas de qualquer historiador, em qualquer época que pronunciassem a respeito da construção da história.

Alguns se escondem em serem meros narradores de uma história que não pode ser interpretada dentro de uma realidade concreta, defendem que não passa de uma mera construção de representações ideológicas.

A meu ver, tudo isso não se transpõe de teorias vazias que ao esbarrarmos à realidade, titubeamos de nossos (des)compromissos na construção de uma sociedade mais justa e que caminhamos a uma degeneração de valores incalculáveis... Mas deixemos por um momento de lado as teorias no campo da historiografia e passarmos às impressões!

O Congresso Nacional de Estudantes, denominado CNE, ocorrido no Rio de Janeiro, capital, de 11 a 14 de junho de 2009, constituiu uma tentativa frustrada na formação de um marco divisor de águas para o processo das lutas nacionais estudantis e sociais.

Apesar de se mostrar preocupada em definir-se como referencial de militância abandonado pela UNE como direção nacional do movimento estudantil, o CNE não conseguiu forjar a mudança de paradigma tanto proferida na construção de uma nova entidade com valores constituídos pela base estudantil. Pelo contrário, definiu concretamente a formalização de mais uma entidade orientada pelos mesmos padrões que a UNE exerce hoje - pelo controle da UJS (União da Juventude Socialista, vinculada pelo PC do B - Partido Comunista do Brasil) - no caso, o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados) resolutamente projetaram ao longo dos últimos anos através da CONLUTE (Coordenação Nacional de Lutas Estudantis).

Apesar da propaganda carregar um slogan revolucionário: "Construir nas Lutas, um Novo Movimento Estudantil" e que as expectativas do Congresso era de possibilitar o amadurecimento do debate acerca das necessidades de analisar a conjuntura política social internacional e brasileira para convergir em uma pauta de lutas unificadas e, consequentemente, possibilitar a concretização da futura entidade, pois, a maioria das teses (14 das 16 inscritas) apontava para que tivéssemos um segundo momento ao invés de direcionarmos aquele espaço para a formalização da nova Entidade. 

O que se viu foi à inversão da pauta.

Os delegados reunidos em torno de 1400 inscritos, em sua maioria (90% pelo contraste das votações), doutrinados pelo PSTU, votaram sumariamente antes pela formalização da nova Entidade, sem antes discutir o caráter e até mesmo suas prerrogativas. Vimos um Frankenstein ser criado.

Os mesmos vícios antes questionados da UNE, hoje percebemos estar se repetindo com o CNE dirigido pelo PSTU. Se antes a história era tida como tragédia, sua repetição torna-se uma farsa, parafraseando a retórica mais conhecida de seu patrono, Karl Marx em 18 brumário de Luiz Bonaparte.

Fiquei intrigado ao presenciar um Congresso constituído brutalmente por militantes do PSTU, não que seja errado ou proibido, mas fica paradoxalmente desproporcional ao slogan proferido acima ao atribuir a formação da nova entidade conquistada pela base. O que temos de concreto na identificação dos delegados, é que em sua maioria, inscrita para o CNE, serem membros aparelhados, ou da diretoria executiva de CA's, DA's ou DCE's das universidades presentes, ou também serem filiadas ao partido do PSTU. Uma minoria constituía-se necessariamente da BASE, não sendo identificados por nenhuma competência anteriormente citada.

Prerrogativa mais delicada é que a própria base estudantil das universidades representadas pelos delegados sequer tiveram contato com as teses inscritas (mesmo que tivéssemos tido acesso na internet, o debate concreto deveria ter sido forjado em nossas bases) e foi isso que um número significativo de delegados tentou defender no CNE, porém, atropelados pela militância do PSTU.

Ouvimos discursos serem proferidos de maneira romântica, calcinante, em que o papel do estudante era que se propusesse à luta unificada com os trabalhadores, que precisássemos constituir uma nova vanguarda, e assim vai... Percebi que um velho discurso ressuscitava entre os escombros da antiga e burocratizada experiência da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) representada pelo leninismo bolchevique. Como dizia Maurício Tragtenberg em seu livro Reflexões sobre o Socialismo, afirmava que Lenin proferia todo poder aos Sovietes ao conduzirem a Revolução Russa, mas em sua consolidação, foram afastados do "poder" e substituídos pelo Partido Bolchevique... Estamos vendo repetir a história, ou simplesmente, tornar-se uma farsa?

Precisamos sim, aprender com a história, como exemplo, a formação do 1.º Congresso Operário Brasileiro (COB) em 1906 que originou a Confederação Operária Brasileira e que mesmo que não tivessem tido uma postura muito bem elaborada na ação direta e revolucionária, situando-se em grande parte mais centradas ao sindicalismo em suas reivindicações, como alegam Paulo Sérgio Pinheiro e Michael M. Hall em seus estudos no livro A Classe Operária no Brasil (1889-1930) documentos, Volume 1, foram fundamentais nos primeiros levantes de organização dos trabalhadores de maneira independente, autônoma, embrião significativo das bases de nossos direitos e conquistas através das lutas (insurreições e greves) históricas. Definiam em suas acepções, por exemplo: no item 5.º da sua Constituição, a "Confederação não pertence a nenhuma escola política ou doutrina religiosa, não podendo tomar parte coletivamente em eleições, manifestações partidárias ou religiosas, nem podendo um sócio qualquer servir-se de um título da Confederação ou de uma função da Confederação em um ato eleitoral ou religioso".

Parece a história tomar rumos inimagináveis. Ao passo que nossos pioneiros militantes, em uma construção das lutas se verem totalmente marginalizados de direitos civis, atuando na clandestinidade para efetivação de direitos nunca antes constituídos; hoje nos vemos como herdeiros de uma causa retaliada por nossas descomposturas, lutando para não perder direitos (mais parece reformismo que postura revolucionária), disputando espaços que nos empurram para uma burocratização do espaço político sem precedentes, projetando em nossas bases a ojeriza de compartilharem um projeção direta e efetiva no devir da história como agentes transformadores da sociedade. Estamos na contramão da história.

E como gota d'água precipitada à minha percepção da degeneração previamente anunciada, uma manobra no CNE. Ao se encaminhar uma resolução a respeito da nova entidade, no caso a ANEL (Assembleia Nacional de Estudantes Livres), em participar do processo de eleição nacional, talvez, a principal resolução pronunciada, pois, ironicamente desproporcional à proposta rejeitada de construirmos uma greve geral da Educação para o segundo semestre deste ano. Situações como estas nos leva a fazer um questionamento: Estão mesmos preocupados em construir uma nova entidade através da luta, ou consolidar um espaço político para atuação partidária do PSTU para as eleições de 2010?

Foi o estopim, escancarou-se de vez a preocupação em que definiria os membros da Tese majoritária intitulada OUTROS MAIOS VIRÃO... Uma alusão descabida ao Movimento Revolucionário surgido na França em maio de 1968 que propusera romper vícios de uma burocracia stalinista que contaminava o movimento revolucionário da época... Totalmente avesso ao que se constitui nesse descalabro CNE, doravante, OUTROS MALES VIRÃO!